"Pensando em 2026: Caiado se posiciona como alternativa independente e dispara contra governo Lula em meio a especulações sobre candidatura presidencial"

Caiado reforça independência política e critica governo Lula em meio à possível candidatura presidencial.

    Em 1989, ao disputar a Presidência pela primeira vez, Ronaldo Caiado (União Brasil) já era conhecido por ter fundado a União Democrática Ruralista (UDR). Com seu inconfundível sotaque goiano, ele se defendia na televisão, argumentando que, nas grandes cidades, era frequentemente identificado como "o candidato do interior".

"Se temos São Paulo e grandes centros urbanos, é porque existe o interior do Brasil", afirmou durante as considerações finais de um debate na TV Bandeirantes, às vésperas do primeiro turno daquela primeira eleição presidencial após a redemocratização.

Naquela ocasião, Caiado terminou a corrida presidencial na décima posição, recebendo menos de 1% dos votos.

Quase quatro décadas depois, seu sotaque permanece inalterado, assim como seu orgulho de representar o setor agropecuário. Entretanto, agora, além de se apresentar como defensor do agronegócio, o governador de Goiás busca reforçar sua imagem como um político experiente, que há anos mantém um embate direto com Lula e o PT. Sua intenção? Ocupação do espaço político que pode ser deixado por Jair Bolsonaro (PL) na disputa presidencial de 2026.

Em entrevista à BBC News Brasil, concedida em Salvador na véspera do lançamento de sua pré-candidatura à Presidência, Caiado fez críticas à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e evitou mencionar Bolsonaro.

Quando questionado sobre o ex-presidente, destacou a importância da autonomia para governar e declarou: "Não sou preposto de ninguém."

Críticas à taxação dos mais ricos e política econômica do governo

O governador classificou como uma medida "populista" a proposta do governo de aumentar os impostos para as camadas mais ricas da população, a fim de compensar a redução da arrecadação causada pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.

Segundo estimativas do governo, essa nova taxação impactaria cerca de 141 mil pessoas. Caiado, cuja declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022 apontou uma fortuna de quase R$ 25 milhões – resultado de investimentos em fazendas e pecuária –, seria um dos afetados.

"Isso é um ato populista, especialmente num momento em que o governo gasta de forma descontrolada", criticou o governador.

Segurança pública e letalidade policial

Focado em consolidar sua base no eleitorado de direita, Caiado também defendeu a atuação das forças de segurança em Goiás. O Estado registrou a terceira maior taxa de mortes violentas causadas por policiais em 2023, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Para ele, o aumento da letalidade policial está diretamente ligado à melhoria dos índices de segurança no Estado. "Quando há confronto com a polícia, quem acaba morrendo? O crime está sendo enfrentado", argumentou. "Nossas tropas são treinadas para esse tipo de situação."

Defesa do agronegócio e meio ambiente

Sobre questões ambientais, o governador rejeitou a ideia de que a agropecuária deixa passivos ambientais. No entanto, dados do MapBiomas – um projeto de monitoramento da cobertura e uso da terra no Brasil – apontam que a expansão das pastagens foi a principal causa do desmatamento ilegal na Amazônia entre 1985 e 2023.

Caiado, por outro lado, defendeu o cumprimento da legislação ambiental e afirmou que o setor segue as normas estabelecidas pelo Código Florestal Brasileiro.

Obstáculos políticos e desafios jurídicos

Apesar de sua intenção de disputar a Presidência em 2026, Caiado enfrenta desafios dentro de seu próprio partido. Há negociações em curso para que o União Brasil forme uma federação com o Progressistas (PP), o que poderia dificultar ainda mais a viabilidade de sua candidatura, já contestada por setores internos da legenda.

Além disso, na próxima terça-feira (8/4), o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará um recurso apresentado pelo governador contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que o declarou inelegível.

A condenação se deu por abuso de poder, uma vez que Caiado utilizou o Palácio das Esmeraldas, residência oficial do governo estadual, para promover eventos em apoio ao candidato Sandro Mabel (União Brasil), que venceu a eleição para a Prefeitura de Goiânia em 2023.

Caiado, por sua vez, minimizou o impacto do processo: "Essa acusação não tem fundamento."